No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou
suas 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, Alemanha. Nelas,
condenava os abusos do sistema das indulgências e desafiava a todos para um
debate sobre o assunto. Essa foi a culminância de um processo longo e doloroso,
de muitos séculos, até Deus levantar aquele monge agostiniano para a obra da
Reforma Protestante.
Lutero, nascido ...
no dia 10 de novembro de 1483, em Eisleben, foi
preparado por seu pai para estudar Direito. Porém, em julho de 1505, apanhado na
estrada por uma pavorosa tempestade, quando viajava para a cidade de Erfurt,
Lutero prometeu a Santa Ana que, caso sobrevivesse à fúria dos elementos,
tornar-se-ia monge. Três semanas depois, entrava para o mosteiro da Ordem de
Santo Agostinho, em Erfurt. Em 1507 foi ordenado e celebrou sua primeira missa -
completamente atônito e perplexo diante da presença terrível do Deus Altíssimo.
Aquela missa foi uma experiência excruciante para Lutero, atormentado diante da
ideia de ele, um pecador, estar diante do Altíssimo.
Em 1508 ensinou
teologia na universidade de Wittenberg, recém fundada pelo Eleitor da Saxônia, o
Príncipe Frederico. Nos anos 1510-11, foi enviado a Roma tratar de assuntos
pertinentes à sua ordem. Lá, ficou estarrecido diante da devassidão da Igreja
Romana. De volta a Wittenberg, tornou-se professor de Bíblia e recebeu o título
de Doutor em Teologia. Estudando a Bíblia para preparar suas aulas, encontrou a
doutrina da justificação pela fé. Estudando as línguas originais das Escrituras,
percebeu a discrepância entre os ensinos católico-romanos e aquilo que a Bíblia
realmente afirmava. Entendeu que somente na Palavra de Deus havia a verdadeira
autoridade espiritual. A justificação pela fé e a sola Scriptura (o conceito
segundo o qual a Bíblia é a única fonte de autoridade para o crente) tornaram-se
os pilares de seu sistema teológico.
Quando em 1517 o padre Tetzel,
representante do arcebispo Alberto, chegou em Jüterborg, cidade próxima a
Wittenberg, vendendo indulgências, Lutero e seus companheiros resolveram
protestar contra tal prática. Tetzel ensinava que o arrependimento dos pecados
não era necessário para se obter o perdão de Deus, para quem comprasse uma
indulgência. Isso levou Lutero a desafiar Tetzel e os defensores das
indulgências a um debate acadêmico, afixando, como de costume, suas Teses na
porta da igreja do Castelo. Mas então a providência soberana de Deus entrou em
ação e os acontecimentos se precipitaram.
Apoiado por Frederico e mais
tarde por outros príncipes alemães, Lutero escapou da fogueira e começou a
publicar suas obras teológicas, enquanto enfrentava os ataques do catolicismo
romano de sua época. Participou de debates, foi convocado para concílios, sempre
escapando da morte graças a seus partidários influentes. Até que em 1520 o papa
Leão X publicou sua bula Exsurge Domini ("Levanta-te, Senhor), que veio a
deflagrar a excomunhão de Lutero e a sua condenação como herege. Levado por seus
amigos, contra a sua vontade, para o Castelo de Wartburg, onde permaneceu
escondido até 1522, Lutero escapou da fúria assassina da Igreja Romana e
aproveitou para traduzir a Bíblia para o idioma alemão, a fim de que o povo
tivesse acesso às Escrituras – um golpe mortal no romanismo medieval. A Bíblia
alemã de Lutero foi finalmente publicada em 1534. Foi a primeira Bíblia no
vernáculo do povo da Alemanha, e serviu de marco para a padronização da
língua.
Depois de Lutero viriam outros reformadores, dos quais os mais
proeminentes foram Ulrich Zwinglio, João Calvino (ambos na Suíça) e John Knox
(na Escócia).
Depois viriam os anabatistas e sua Reforma Radical, com
Menno Simmons entre os líderes (os Irmãos Menonitas têm esse nome em sua
homenagem), a Reforma Anglicana na Inglaterra (que começou pelo desejo do rei
Henrique VIII de ter um filho homem: para isso, acreditava que precisava
divorciar-se de sua esposa e desposar outra mulher, e para atingir seu objetivo
deveria controlar a igreja da Inglaterra), os puritanos na Europa e depois
rumando para a América do Norte, etc...
Muitas histórias, muitos nomes,
muitos dramas humanos - todos eles convergindo para a libertação do povo da
tirania religiosa e da ignorância bíblica. Foi um começo. Muitos protestantes
foram também tirânicos e ignorantes. Mas a Bíblia estava, finalmente, à
disposição de qualquer um que a desejasse conhecer. E o conhecimento
liberta.
Hoje, quase 500 anos depois, precisamos refletir sobre o nosso
papel no cenário religioso contemporâneo - precisamos de uma nova Reforma, que
nos liberte da tirania dos mercenários religiosos e da ignorância de seus
seguidores. Uma parcela significativa da igreja evangélica, neste alvorecer do
século XXI, aparenta estar tão corrompida quanto o catolicismo romano do século
XVI. Precisamos de novos Luteros, novos Calvinos, novos reformadores que tenham
a coragem de se posicionar e de mostrar ao mundo, mais uma vez, o poder e a
autoridade da Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada